Disputas em torno de dietas de baixa caloria têm sido conduzidas nos círculos científicos há décadas. Recentemente, no entanto, graças a numerosos estudos nesta área, a “gordurofobia” gradualmente começou a dar lugar a uma atitude mais razoável em relação às gorduras.
Um lugar especial entre as dietas baixas em carboidratos é tomado pela dieta cetogênica (nas comunidades dietéticas ela é apelidada de “pesadelo do nutricionista”). É difícil para um não iniciado considerar saudável uma dieta, em que, ao invés da farinha de aveia tradicional no café da manhã, tem-se “café com manteiga”, em que não há fruta, e onde o teor de gorduras saturadas excede em “várias vezes” as recomendações padrão dos nutricionistas.
No entanto, a popularidade da dieta gordurosa está crescendo cada dia mais no contexto de pesquisa médica, uma vez que é reconhecida como eficaz no tratamento da epilepsia, doença de Alzheimer, Parkinson, câncer, autismo, reabilitação após lesões cerebrais e para controle de peso.
Então, qual é o segredo do sucesso dessa dieta? Discorreremos a seguir.
A história
A dieta cetogênica não é nova: há quase um século, os médicos começaram a usar uma dieta semelhante em seu efeito metabólico ao jejum terapêutico para tratar casos de epilepsia resistentes a drogas – desde a época de Hipócrates, observou-se que períodos prolongados de jejum enfraquecem convulsões.
Vale notar que a evolução do cérebro de homo sapiens também aconteceu na base de uma dieta gordurosa. De fato, mesmo na época da caça e da coleta, milhares de gerações de nossos ancestrais seguiram exatamente esse “estilo de alimentação”.
É razoável supor que, como nossos antigos antecessores, o homem moderno, que tem principalmente gorduras em sua dieta, é capaz de ficar sem comida, carboidratos e glicose por um longo tempo.
O mecanismo
Normalmente, o corpo usa glicose obtida de alimentos ricos em carboidratos como fonte de energia. Ele não pode produzir glicose sozinho, e suas reservas armazenadas no fígado e nos músculos são suficientes apenas por um dia.
Quando as reservas de glicose se esgotam, o corpo entra em outra fase do suporte vital para suprir os órgãos, o cérebro e os músculos com a energia necessária. A produção de energia pode ocorrer devido à conversão de proteína em glicose (gliconeogênese), ou através do influxo de proteínas, convertendo gorduras em cetonas por meio de cetose.
Os produtos de tal decaimento de gorduras (cetonas) são produzidos no fígado durante a quebra dos ácidos graxos e atuam como substitutos da glicose que é necessária para a nutrição do cérebro.
Assim, a fase de jejum (e a dieta cetogênica) é caracterizada pelo estado de cetose, em que o corpo recebe energia não através da queima da glicose, mas através do acúmulo e uso dos produtos de fissão formados das gorduras – cetonas.
Durante períodos de jejum prolongado, as reservas de glicose se esgotam, mas acontece um acúmulo ativo de cetonas. Tal efeito é alcançado com dietas contendo uma quantidade muito baixa de carboidratos (ingestão diária de carboidratos de 20 -50 g e proteína a uma taxa de 0,8-1,2 g/kg de peso).
O princípio da dieta cetogênica é reduzido ao fato de que a ingestão limitada de glicose faz com que o corpo trabalhe no modo de queima aumentada de gordura. Acontece que tal “substituição do combustível padrão” por um combustível diferente e “melhor” tem várias vantagens.
Vamos listar as áreas em que a dieta cetogênica tem tido um efeito positivo
No tratamento da epilepsia e Alzheimer
A pesquisa mostrou que, além do fígado, as cetonas também são produzidas no próprio cérebro, o que cria condições favoráveis para corrigir os sintomas de doenças associadas ao funcionamento das células cerebrais.
Os seguintes processos acontecem graças a cetonas cerebrais:
• A formação de radicais livres diminui
• Ocorre uma produção de antioxidantes que protegem o cérebro
• A destruição de células cerebrais é bloqueada
• O acúmulo de placas amiloides responsáveis por processos neurodegenerativos na doença de Alzheimer é reduzido.
A dieta cetogênica pode servir como ambiente natural para o tratamento da doença de Alzheimer, demência e outras condições neuropsicológicas caracterizadas por degeneração de neurônios do cérebro. A dieta recomendada deve conter 70% (com base no conteúdo calórico) de gorduras corretas, e a preferência é dada ao óleo de coco.
No tratamento de câncer
Não é segredo que a glicose nutre as células cancerígenas. Por esta razão, uma dieta que exclui açúcar e alimentos altamente ricos em carboidratos pode ser eficaz na prevenção e tratamento de doenças oncológicas, incluindo tumores cerebrais.
O corpo humano é capaz de se adaptar ao uso de gorduras como as principais fontes de energia, mas as células cancerígenas não são capazes de se reestruturar para começar a consumir gordura.
Na dieta clássica cetogênica, a gordura é responsável por 75% das calorias diárias, 20% são proteínas e apenas 5% são carboidratos. Com uma quantidade tão pequena de carboidratos, o corpo produzirá energia não a partir da glicose, mas devido à utilização de gordura.
Dr. Sifrid, um especialista reconhecido no tratamento de câncer com o uso de uma dieta cetogênica, em seu livro Cancer as Metabolic Disease, recomenda usar a relação entre cetonas e glicose no sangue para controlar o estado metabólico do corpo.
O nível de glicose no sangue não deve exceder 2,5 – 3 mmol (55-65 mg/dL), isto é, cerca de metade dos valores normais máximos geralmente recomendados. Já o nível de cetonas deve ser mantido a um nível de 3-4 mmol. Com tais indicadores, o corpo funcionará de acordo com mecanismos ceto-fisiológicos (falta de glicose).
O uso de dietas cetogênicas no tratamento do câncer está descrito em vários artigos científicos.
Promove perda de peso
Depois de comer alimentos ricos em carboidratos, a insulina é produzida em resposta a um aumento nos níveis de glicose.
O mesmo hormônio também é responsável pela preservação das reservas de energia no corpo, dando sinais às células para aumentá-las, primeiro na forma de glicogênio (armazenamento de carboidratos), e então transformar o excesso em gordura.
Com uma dieta cetogênica que quase elimina carboidratos, os estoques de glicogênio (carboidratos disponíveis) são reduzidos ao mínimo, o que impede o excesso de produção de insulina em resposta à ingestão de alimentos. Sob tais circunstâncias, o corpo começa a funcionar na base da queima de suas próprias reservas de gordura (e não apenas de alimentos), facilitando muito a tarefa de perder peso.
O mesmo princípio serve como base para outras dietas low-carb. Para perda de peso, versões mais leves de dietas cetogênicas podem ser usadas, baseadas no aumento do consumo de gorduras saudáveis, simultaneamente à redução da proporção de carboidratos.
A maioria das pessoas que acham difícil perder peso com alimentação habitual, geralmente notam algum progresso depois de reduzir a ingestão de carboidratos para 30% da ingestão calórica total e aumentar o consumo de alimentos gordurosos e proteicos para 40 e 30%, respectivamente.
Mudanças estruturais na dieta devem ser realizadas de forma gradual e lenta.
O tipo de gordura usada é muito importante: recomenda-se usar produtos que contenham uma maior quantidade de ácidos graxos de cadeia média, pois o corpo utiliza essas gorduras mais facilmente.
O óleo de coco é considerado o líder em seu conteúdo. Laticínios não pasteurizados, manteiga, abacate, castanhas, sementes de girassol e produtos animais de alta qualidade são fornecedores de ácidos graxos de cadeia curta que são valiosos para o processo de perda de peso na base de uma dieta cetogênica.
Para diabetes e resistência à insulina
A dieta cetogênica ajuda a prevenir os terríveis efeitos do diabetes no corpo. Isto é devido ao fato de que todos os órgãos são mais propensos a usar corpos cetônicos como combustível do que a glicose.
Isso significa que seu metabolismo energético permanece consistentemente alto. A dieta cetogênica pode reduzir a necessidade de drogas diabéticas e insulina.
No diabetes tipo 2, a dieta cetogênica elimina a resistência à insulina, a causa do desenvolvimento da doença. Uma dieta baixa em carboidratos rica em gordura e proteína também pode ser usada com sucesso com diabetes do tipo 1.
Tratamento do autismo
Um crescente número de estudos indica os aspectos metabólicos e alimentares do autismo. A dieta cetogênica contribui para a melhoria das funções mitocondriais do cérebro sob condições cetóticas (usando cetonas para produzir energia em vez de glicose).
No entanto, nos círculos médicos, o estudo da possibilidade de usar uma dieta cetogênica, a fim de corrigir o autismo começou apenas recentemente. Até o momento, há apenas um estudo (não controlado) em que uma dieta cetogênica foi testada com sucesso em um grupo de crianças autistas sem sintomas de epilepsia.
Apenas 18 participantes (de um total de 30 no início) conseguiram se adaptar com sucesso às difíceis condições das dietas ceto-químicas. Eles eram aqueles cujos sintomas de autismo eram menos pronunciados.
A dieta foi mantida de acordo com um horário intermitente (4 semanas da dieta e 2 semanas de descanso). Após 6 meses de observação em 10 crianças, observaram-se melhorias estáveis (médias e significativas) no comportamento. O progresso alcançado foi mantido após o término da dieta e durante a pausa de 2 semanas.
Dada uma considerável porcentagem de casos de epilepsia diagnosticada e episódios convulsivos em crianças diagnosticadas com TEA (de 5 a 46% de acordo com diferentes fontes), é óbvio que uma dieta cetogênica pode ajudar a aliviar os sintomas.
Aproximadamente 7% das crianças com autismo sofrem de uma doença mitocondrial genética, mas uma porcentagem muito maior tem disfunção mitocondrial pronunciada devido à produção insuficiente de enzimas envolvidas em processos metabólicos (a conversão de alimentos em energia).
A este respeito, a dieta cetogênica pode ser considerada uma ferramenta terapêutica central que, em combinação com outros meios possíveis de correção biológica da disfunção mitocondrial (ingestão de vitaminas do grupo B, coenzimas Q-10 e aminoácido carnitina), pode trazer resultados surpreendentes.
De particular valor é o caso clínico descrito do uso bem-sucedido de uma dieta cetogênica no tratamento do autismo agravado por crises epilépticas.
Outras coisas que podem ser curadas com a dieta:
- Para aliviar os sintomas da esquizofrenia,
- depressão crônica,
- enxaqueca,
- transtorno bipolar e
- esclerose múltipla
O crescente interesse dos círculos científicos pela dieta cetogênica após anos de esquecimento devido à “gordurofobia”, sem dúvida, inspira certo otimismo. O número de estudos está crescendo a cada ano.
No entanto, muitas questões ainda devem ser esclarecias antes que a dieta gordurosa possa ser recomendada a todos que precisam desse tipo de tratamento: as dietas cetogênicas têm muitas contraindicações. Em qualquer caso, é necessário consultar um médico e obter assistência profissional de um nutricionista antes de começar a fazer essa dieta.
Já do ponto de vista de uma pessoa interessada em obter benefícios preventivos à saúde, associados a uma dieta cetogênica, é mais prudente não se apressar com a dieta, e começar praticando periodicamente um jejum por 14 a 24 horas.
Para alcançar um efeito desejado, você não precisará passar fome; às vezes, é suficiente minimizar (ou eliminar) carboidratos matinais (ingestão de glicose) no café da manhã após uma noite de sono, substituindo-os por um café da manhã cetogênico. Isso equivale a jejum periódico.
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