Neste artigo, discutiremos a evolução do conceito de “ter” na história da humanidade e como isso, em certas situações, pode ser prejudicial. Assim como todas as emoções humanas, o “ter” em si não é inerentemente bom ou ruim – ele simplesmente é. O que pode transformar o “ter” em algo negativo é a maneira como ele é utilizado e valorizado nos dias de hoje. Leia tambem nosso artigo sobre o Ser e o Ter.
Índice
Introdução: O Ter como Fundamento da Humanidade
Desde os primórdios da humanidade, o conceito de “ter” desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da espécie. O “ter” começou como uma necessidade básica, impulsionado pelo instinto de sobrevivência. À medida que as sociedades humanas evoluíram, o “ter” assumiu novas formas e significados, influenciando tudo, desde a acumulação de recursos até a definição de identidade e status pessoal. Neste artigo, exploraremos como o “ter” moldou a trajetória da humanidade, desde suas origens até os dias atuais.
O “Ter” por Necessidade: Tirando o Ser Humano das Cavernas
No início da história humana, o “ter” estava intimamente ligado à sobrevivência. Os primeiros humanos precisavam “ter” abrigo, fogo e ferramentas para se protegerem dos elementos e dos predadores. Esses recursos essenciais não eram apenas posses; eram a diferença entre a vida e a morte. O acúmulo de alimentos e a criação de ferramentas rudimentares permitiram ao ser humano não apenas sobreviver, mas também dominar o ambiente ao seu redor.
Exemplo: A descoberta do fogo não apenas forneceu calor e proteção, mas também permitiu a cozinhar alimentos, aumentando a disponibilidade de nutrientes e, consequentemente, a sobrevivência da espécie. Da mesma forma, a construção de abrigos e a confecção de roupas foram formas iniciais de “ter” que proporcionaram segurança e conforto.
Essas práticas evoluíram à medida que os humanos passaram de nômades para sociedades sedentárias, estabelecendo as bases para o desenvolvimento de civilizações. O “ter” se tornou um meio de assegurar a continuidade da vida e de preparar o caminho para o progresso.
O “Ter” Conhecimento: O Motor da Evolução Humana
À medida que as necessidades básicas de sobrevivência foram sendo atendidas, o “ter” assumiu uma nova dimensão: o acúmulo de conhecimento. O “ter” conhecimento se tornou um dos maiores motores da evolução humana. Através da observação, experimentação e transmissão de conhecimento, os humanos começaram a entender melhor o mundo ao seu redor, levando a avanços em tecnologia, medicina e cultura.
Exemplo: A invenção da escrita e a construção das primeiras bibliotecas marcaram momentos significativos no “ter” conhecimento. Esses avanços permitiram o armazenamento e a disseminação de informações, facilitando o desenvolvimento de grandes civilizações e possibilitando revoluções científicas que moldaram o mundo moderno.
O conhecimento acumulado não apenas permitiu a exploração e a dominação do ambiente, mas também fomentou a criatividade, a inovação e a capacidade de adaptação, elementos essenciais para o progresso contínuo da humanidade.
Leonardo da Vinci: O Conhecimento como o Verdadeiro Tesouro
- Descrição: “Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios da história, exemplifica o poder do ‘ter’ conhecimento sobre o ‘ter’ bens materiais. Embora Leonardo tenha trabalhado em projetos que exigiam recursos materiais, ele sempre priorizou o conhecimento e a compreensão do mundo ao seu redor como as maiores riquezas que alguém poderia possuir. Sua obsessão pelo aprendizado e pela inovação reflete uma abordagem de vida onde o ‘ser’ intelectual e criativo supera o desejo de ‘ter’ material.”
- Impacto: “Leonardo via o conhecimento como um tesouro infinito, que não apenas enriquecia sua própria vida, mas também contribuía para o avanço da humanidade. Ele nos ensina que o ‘ter’ pode ser significativo quando aplicado ao cultivo do intelecto e da criatividade, e que o verdadeiro valor está em como usamos esse conhecimento para melhorar a nós mesmos e o mundo ao nosso redor.”
A Cultura Grega e a Valorização do Ser sobre o Ter
O Ser na Filosofia Grega:
- Descrição: “Na Grécia Antiga, a ênfase cultural estava fortemente voltada para o ‘ser’ — o desenvolvimento do caráter, da virtude e da sabedoria. Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles dedicaram suas vidas a explorar o que significa viver uma vida plena e virtuosa, acreditando que o verdadeiro valor de uma pessoa estava em sua alma, em sua capacidade de raciocinar e em suas ações morais, e não nas posses materiais.”
- Impacto: “Essa ênfase no ‘ser’ era refletida em grande parte da cultura grega, desde a arte e a literatura até as práticas cotidianas. Ao contrário de outras civilizações que construíram grandes monumentos como símbolo de poder e riqueza, os gregos focavam suas construções em templos e teatros que celebravam a comunidade, a espiritualidade e a reflexão filosófica. Essas estruturas, embora grandiosas em seu design, eram mais dedicadas à adoração dos deuses e ao avanço intelectual do que à ostentação de riqueza.”
O Ter na Grécia Antiga:
- Descrição: “Embora a Grécia Antiga tenha tido sua parcela de riqueza e comércio, o ‘ter’ não era visto como a principal medida de sucesso ou valor pessoal. Em vez disso, os gregos valorizavam a moderação, um conceito central na filosofia grega conhecido como ‘sophrosyne’. Essa ideia de equilíbrio e autocontrole permeava a vida grega, orientando a sociedade a evitar excessos e a buscar harmonia entre as necessidades materiais e as aspirações espirituais e intelectuais.”
- Impacto: “Isso não significa que os gregos não possuíam riqueza ou que o ‘ter’ era irrelevante. No entanto, o que diferenciava a Grécia Antiga era a crença de que o ‘ser’ — a virtude, a sabedoria, a contribuição para a pólis (cidade-estado) — era muito mais importante do que a acumulação de bens materiais. Esse foco no ‘ser’ sobre o ‘ter’ ajudou a moldar uma cultura que valorizava a filosofia, as artes e a política como os verdadeiros indicadores de uma vida bem-sucedida.”
O “Ter” como Ambição: Quando o Necessário se Transforma em Excesso
O “ter” começou como uma necessidade básica para a sobrevivência, mas ao longo do tempo, essa necessidade evoluiu para algo muito mais complexo e, em alguns casos, destrutivo. Muitas são as teorias sobre a origem do “ter” por ambição. Alguns argumentam que esse desejo é inerente à espécie humana, enquanto outros acreditam que ele foi uma construção social, resultado de diversos adventos em sociedades ao redor do mundo.
Uma visão particularmente interessante é a de que o “ter” por ambição surgiu da privação de coisas básicas ao “ser”. Em certas épocas e culturas, comportamentos e prazeres naturais, como comer, beber, dançar e até mesmo o ato de fazer sexo, foram considerados pecaminosos ou moralmente errados. Essa condenação era muitas vezes aplicada apenas às classes mais pobres e menos poderosas da sociedade. Enquanto os menos favorecidos eram ensinados a renunciar a esses prazeres, as elites podiam desfrutá-los livremente em grandes salões e festas luxuosas.
Esse contraste gerou uma poderosa associação entre o “ter” e a felicidade. As pessoas começaram a ver no “ter” — seja poder, dinheiro ou status — o caminho para alcançar os prazeres e a liberdade que lhes eram negados. Essa ideia se enraizou profundamente, criando a percepção de que a felicidade e a realização pessoal estão diretamente ligadas à posse de bens materiais.
Essa transformação culminou no pensamento moderno de que “você vale o que você tem”. Em nossa sociedade atual, muitas pessoas acreditam que é impossível ser feliz sem possuir os símbolos de sucesso e status, como um iPhone, um carro de luxo ou uma casa elegante. O “ter” deixou de ser apenas uma ferramenta para a sobrevivência e passou a ser visto como uma necessidade básica para o “ser” realizado — ou seja, para o “ser” feliz.
Essa distorção do “ter” trouxe consigo inúmeros desafios. A busca incessante por mais, impulsionada pela crença de que a felicidade reside nas posses materiais, levou ao consumismo desenfreado, à desigualdade social e ao esgotamento dos recursos naturais. O “ter” como ambição tornou-se um ciclo vicioso, onde nunca há “suficiente”, e a busca por mais ofusca o verdadeiro valor do “ser”.
Diógenes: O Primeiro Minimalista
Diógenes de Sinope, um dos fundadores da escola cínica de filosofia, é frequentemente considerado um dos primeiros minimalistas da história. Ele acreditava que a verdadeira felicidade não estava na acumulação de bens, mas na renúncia ao luxo e à simplicidade extrema. Diógenes vivia em um barril e possuía apenas o que era absolutamente necessário, desprezando os valores materialistas de sua época.
A filosofia de Diógenes desafia a noção de que “ter” é essencial para o “ser”. Ele provou que a felicidade pode ser encontrada na liberdade do apego material, valorizando a autossuficiência e a autenticidade acima de tudo. Sua vida é um poderoso lembrete de que, muitas vezes, menos é mais quando se trata de alcançar a verdadeira satisfação.
A Distorção do Ser: Quando o “Ter” se Torna Pejorativo
Na sociedade atual, o “ter” foi além da acumulação de bens materiais e passou a englobar até características inerentes ao “ser”, como a cor da pele, a etnia, o gênero e outros aspectos identitários. O que antes era uma expressão natural do “ser” agora é visto por muitos como um “ter” pejorativo, levando à discriminação e ao preconceito. Essa transformação é alarmante porque distorce a percepção de valor humano, criando hierarquias sociais baseadas em fatores que estão fora do controle individual.
Exemplo: O Preconceito Racial
A questão racial é um exemplo claro dessa distorção. Em vez de celebrar a diversidade da humanidade, a sociedade transformou características como a cor da pele em marcas de diferenciação e exclusão. Pessoas de ascendência asiática, africana, indígena, entre outras, não são apenas vistas como “sendo” de uma determinada etnia, mas são frequentemente reduzidas a um “ter” estigmatizado — “ter” pele amarela, “ter” pele negra — como se isso fosse um rótulo a ser carregado, e não uma parte intrínseca e valiosa de sua identidade.
Impacto na Sociedade
Essa distorção do “ser” em “ter” pejorativo perpetua sistemas de opressão e desigualdade. Quando o “ter” se torna um motivo de discriminação, as pessoas são julgadas não pelo conteúdo de seu caráter, mas por atributos superficiais que são usados para justificar preconceitos. Isso gera um ambiente onde o “ser” verdadeiro de uma pessoa — sua personalidade, seus talentos, sua moralidade — é ofuscado por julgamentos baseados em preconceitos e estereótipos.
O “Ter” como Domínio: Quando o Homem Deixou de Ser Parte da Natureza para Ter Direito Sobre Ela
Uma das transições mais significativas na história da humanidade foi a mudança da visão do ser humano como parte integrante da natureza para a de dominador da natureza. Esse ponto de inflexão marcou o momento em que o “ter” deixou de ser apenas uma questão de sobrevivência e passou a incluir a posse e o controle sobre a terra, os animais e os recursos naturais.
Essa mudança de paradigma está profundamente refletida nas palavras do Chefe Seattle, líder dos Suquamish e Duwamish, em sua carta ao presidente dos Estados Unidos:
“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? A ideia nos parece estranha. Não somos donos da pureza do ar nem do brilho da água. Como é que se poderá comprá-los de nós? Cada parcela desta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha resplandecente do pinheiro, cada aresta de praia arenosa, cada névoa na escuridão das florestas, cada clareira, cada inseto a zumbir são sagrados na memória e na experiência do meu povo.”
Essas palavras ecoam uma visão do mundo onde a terra, o céu, e todos os seres vivos são interconectados e sagrados. Para o Chefe Seattle, a ideia de “ter” a terra, de possuí-la, era completamente estranha e inaceitável. Ele via o ser humano não como um dominador, mas como parte de um todo maior, onde o respeito e a harmonia eram essenciais para a sobrevivência de todos.
Ao contrastar essa visão com a moderna ideia de domínio, fica claro como o “ter” se transformou em um exercício de controle e exploração, muitas vezes à custa do equilíbrio natural e da própria sobrevivência das futuras gerações. A carta do Chefe Seattle nos lembra que o verdadeiro desafio não é simplesmente possuir ou controlar, mas sim viver em harmonia com o mundo natural, reconhecendo que somos apenas uma parte de um sistema muito maior e interconectado.
A Revolução Agrícola: O Início do Domínio
Com a Revolução Agrícola, aproximadamente 10.000 anos atrás, os humanos começaram a cultivar a terra e a domesticar animais, deixando para trás o estilo de vida nômade de caçadores-coletores. Esse foi o primeiro grande passo em direção ao “ter” como domínio. A capacidade de cultivar alimentos e criar animais não apenas garantiu a sobrevivência, mas também permitiu o acúmulo de excedentes, o que levou ao surgimento de sociedades mais complexas e hierarquizadas.
Impacto: Essa mudança foi fundamental para o desenvolvimento das primeiras civilizações, mas também iniciou um processo de exploração contínua dos recursos naturais. À medida que os humanos se estabeleciam e as sociedades cresciam, a noção de propriedade privada e o desejo de “ter” mais terras e recursos se enraizaram. Essa nova relação com a natureza deu origem a um ciclo de exploração e degradação que continua até hoje.
O Antropocentrismo: A Ascensão do Homem como Mestre da Terra
Com o avanço das civilizações, especialmente no Ocidente, surgiu a ideia do antropocentrismo — a visão de que os seres humanos estão no centro do universo e que todas as outras formas de vida existem para servir aos seus propósitos. Esse conceito foi fortemente influenciado por textos religiosos e filosóficos, que frequentemente colocavam o ser humano em uma posição de domínio sobre a natureza.
Um exemplo marcante dessa visão pode ser encontrado na tradição judaico-cristã, onde, no Livro do Gênesis, Deus concede ao homem “domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo animal que se move sobre a terra.” Essa passagem foi interpretada ao longo dos séculos como uma justificativa para a exploração da natureza em benefício humano. Da mesma forma, filósofos como Aristóteles e, mais tarde, René Descartes, contribuíram para essa visão ao posicionar o ser humano como a “coroa da criação” e ao tratar a natureza como um recurso a ser utilizado.
Impacto
O antropocentrismo consolidou a ideia de que os humanos têm o direito de “ter” a terra e seus recursos à sua disposição. Durante a Revolução Industrial, essa visão foi intensificada, pois o avanço das tecnologias permitiu a exploração em larga escala da natureza. No entanto, esse progresso teve um custo alto: a desconexão crescente entre os humanos e o meio ambiente. As consequências desse domínio incluem a perda de biodiversidade, mudanças climáticas e a degradação de ecossistemas inteiros, levando a uma crise ambiental que hoje desafia a sobrevivência das futuras gerações.
Reflexão Final: O Preço do “Ter” como Domínio
O conceito de “ter” como domínio sobre a terra e seus recursos teve um impacto profundo e duradouro na história da humanidade. Embora tenha possibilitado o desenvolvimento das civilizações e o progresso material, também trouxe consigo uma série de desafios ambientais e éticos. A visão do ser humano como mestre da terra levou a um uso insustentável dos recursos naturais e a uma visão utilitarista da natureza, onde o valor dos seres vivos é medido apenas por sua utilidade para o homem.
Hoje, diante das crises ambientais e da crescente conscientização sobre a interdependência entre todas as formas de vida, é crucial reavaliar essa relação. Precisamos redescobrir o equilíbrio entre “ter” e “ser”, reconhecendo que a verdadeira sabedoria e felicidade não vêm do domínio sobre a natureza, mas da harmonia com ela. Assim como os antigos gregos valorizavam o “ser” sobre o “ter”, e como Diógenes e Leonardo da Vinci nos mostraram que o “ter” mais importante é o conhecimento e a sabedoria, devemos aprender a ver a terra não como algo a ser possuído, mas como algo a ser cuidado e respeitado.
O “Ter” por Desejo de Poder: A Busca pelo Controle e suas Consequências
Enquanto o “ter” pode começar como uma necessidade básica de sobrevivência ou conforto, ele frequentemente evolui para um desejo desenfreado de poder. Esse desejo de possuir e controlar não se limita apenas aos bens materiais, mas se estende ao domínio sobre outras pessoas e o meio ambiente. Historicamente, essa busca pelo poder tem sido uma força motriz por trás de muitos dos maiores conflitos e injustiças do mundo.
Desde as primeiras civilizações, onde o poder estava diretamente ligado à posse de terras e recursos, até as sociedades modernas, onde o poder é frequentemente medido pela riqueza e pela influência, o “ter” se transformou em um símbolo de status e controle. Esse desejo de poder pode levar à manipulação das leis, da economia e até mesmo das crenças culturais para garantir que apenas alguns poucos mantenham o domínio.
Essa mentalidade de poder e controle gera um ambiente em que as escolhas pessoais e a autonomia dos indivíduos são constantemente ameaçadas. Aqueles que detêm o poder frequentemente o fazem às custas dos menos favorecidos, perpetuando injustiças sociais e criando profundas desigualdades. Para manter seu status, esses detentores de poder manipulam sistemas e instituições, reforçando um ciclo de opressão que dificulta o acesso igualitário a recursos e oportunidades.
O “ter” por poder também instiga uma cultura de consumismo desenfreado, onde o valor de uma pessoa é muitas vezes medido pelo que ela possui, em vez de quem ela é. Isso cria uma sociedade onde a busca por status e reconhecimento leva ao esgotamento de recursos, tanto materiais quanto emocionais, perpetuando um ciclo de insatisfação e desejo constante. A acumulação de riqueza e bens se torna um fim em si mesmo, desconsiderando os impactos negativos que essa mentalidade pode ter sobre o meio ambiente e as relações humanas.
Além disso, essa obsessão pelo “ter” resulta na exploração implacável da natureza. A destruição de ecossistemas, o desmatamento e a poluição são muitas vezes justificados em nome do progresso e do desenvolvimento econômico, quando, na realidade, esses atos são impulsionados pelo desejo de poder e controle. As consequências são sentidas globalmente, com mudanças climáticas devastadoras, a extinção de espécies e a degradação dos recursos naturais, comprometendo a sobrevivência das futuras gerações.
Essa busca incessante pelo “ter” tem moldado a sociedade moderna de maneiras profundas e, muitas vezes, prejudiciais. Dois exemplos claros que ilustram essa distorção são a Black Friday e o impacto das redes sociais na cultura do status.
Exemplo: Black Friday e Consumismo em Massa
A Black Friday é um exemplo evidente de como o “ter” se tornou central na cultura contemporânea. Este evento anual, caracterizado por descontos massivos e uma corrida desenfreada por compras, incentiva as pessoas a adquirir o máximo possível, muitas vezes por impulso. A mensagem implícita é que a felicidade e o status estão diretamente ligados à posse de mais coisas. As filas enormes, a correria para aproveitar as promoções e o esgotamento dos estoques refletem uma sociedade que frequentemente confunde necessidades com desejos.
Impacto: Esses comportamentos não apenas alimentam o consumismo desenfreado, mas também perpetuam a ideia de que o valor de uma pessoa está atrelado ao que ela possui. Isso cria um ciclo de insatisfação, onde a busca incessante por mais bens materiais gera desperdício de recursos naturais, contribui para a degradação ambiental e alimenta um sistema econômico que privilegia o consumo excessivo em detrimento da sustentabilidade. Além disso, a obsessão pelo “ter” durante eventos como a Black Friday pode ofuscar o verdadeiro “ser”, levando à alienação e ao distanciamento dos valores mais profundos e significativos.
Exemplo: Redes Sociais e a Cultura do Status
As redes sociais exacerbaram ainda mais a associação entre “ter” e valor pessoal. Plataformas como Instagram e TikTok promovem uma cultura de comparação constante, onde o sucesso é medido pelo número de seguidores, curtidas e pela exibição de bens materiais. Influenciadores e celebridades exibem um estilo de vida baseado no consumo, alimentando a crença de que possuir os “últimos lançamentos” é essencial para se sentir realizado e aceito.
Impacto: Essa cultura cria uma pressão constante para alcançar padrões inatingíveis de sucesso material, o que pode levar à ansiedade, depressão e a uma desconexão com o “ser” autêntico. A incessante comparação pode corroer a autoestima e distorcer a percepção de valor, fazendo com que as pessoas priorizem a aparência externa e o acúmulo de bens em vez do desenvolvimento pessoal e da autenticidade. Isso também perpetua um ciclo de consumo e desperdício, onde o “ter” é glorificado, mas o “ser” é negligenciado, resultando em uma sociedade superficial e insustentável.
Conclusão: Redescobrindo o Equilíbrio entre Ser e Ter
Os exemplos da Black Friday e das redes sociais ilustram como o “ter” pode facilmente se transformar em uma força destrutiva, tanto para o indivíduo quanto para o planeta. Quando o “ter” é priorizado em detrimento do “ser”, não apenas colocamos em risco nossa saúde mental e emocional, mas também contribuímos para a degradação ambiental e o esgotamento de recursos naturais.
Diógenes, com sua vida simples e desapegada, nos lembra que a verdadeira felicidade reside na liberdade do apego material. A cultura grega antiga, que valorizava o “ser” sobre o “ter”, nos ensina que a virtude, a sabedoria e o desenvolvimento pessoal são os verdadeiros indicadores de uma vida bem-sucedida. Leonardo da Vinci, por sua vez, exemplifica o poder do “ter” conhecimento como um meio de enriquecer o “ser”, mostrando que o verdadeiro tesouro está em como usamos o que possuímos para o bem comum.
A reflexão final é um chamado para redescobrir o equilíbrio entre o “ser” e o “ter”. Precisamos reorientar nossos valores, reconhecendo que o “ter” pode complementar o “ser”, mas nunca deve substituí-lo como fonte de felicidade e realização pessoal. Em um mundo cada vez mais consumista, é crucial lembrar que o verdadeiro valor reside no “ser” — naquilo que somos, na nossa essência, e no impacto positivo que podemos ter sobre o mundo e uns sobre os outros.